sábado, 10 de novembro de 2012

Predicado e complementos verbais


Os dois constituintes imediatos da oração são o sujeito e o predicado e como já falamos sobre o sujeito, vejamos, então, o predicado. Este, na organização sintática de uma oração, diz respeito ao que não faz parte do sujeito.

Embora não haja uma posição definida entre muitos gramáticos com relação ao sintagma verbal, entendemos que ele compõe o predicado.

Nesse sentido, Azeredo (2001, p.52) afirma:

(...)Pensamos ser mais conveniente falar em subordinação do objeto, não ao verbo que o rege, mas ao conjunto a que verbo e objeto pertencem: o SV predicado. Com efeito, o verbo transitivo (ou intransitivo) não é o predicado – função exercida pelo SV – mas constituinte dele, seu núcleo, e o objeto outro constituinte, porém subordinado.

Verificamos, então, que o “SV predicado”, como denomina o autor, pode ser constituído de um verbo sem complemento obrigatório ou de um verbo que exija complemento obrigatório, o que fará parte desse sintagma que, por sua vez, constitui o predicado da oração.

(1)           O chefe do departamento resolveu o problema.

No exemplo (1), ao identificarmos os constituintes da oração, temos “o chefe do departamento” como sujeito e “resolveu o problema” como predicado. Neste último, observemos que o verbo é “resolveu” e ele exige um complemento, no caso, “o problema”. Assim, ilustramos o conceito de SV predicado proposto por Azeredo, em que o verbo pode se encontrar acrescido de um complemento obrigatório (como no exemplo) ou de um adjunto (que não é um complemento obrigatório).

A predicação está ligada ao comportamento dos verbos em seu interior. Por isso, há gramáticas que classificam o predicado conforme o tipo de verbo. Para a caracterização desses verbos, todavia, torna-se necessário levar em conta sua carga semântica na oração.

Nesse sentido, segundo Sautchuk (2004), há verbos que têm 100% de carga semântica, como há os que apresentam 0% dessa carga. Nessa equivalência, temos os verbos denominados intransitivos (não necessitam de complemento) e os de ligação (sem carga semântica). Ainda há os verbos que exigem um complemento, portanto não têm 100% de carga semântica, mas também não são apenas de ligação. Estes se denominam transitivos.

Os verbos transitivos, de acordo com suas regências (com ou sem preposição), podem ser classificados em transitivos indiretos ou transitivos diretos. O primeiro grupo relaciona-se aos verbos que são regidos de preposição, já o segundo grupo está relacionado aos verbos não regidos de preposição.

(2) As pessoas precisam de um esclarecimento.

(3) As pessoas exigem um esclarecimento.

Entre os exemplos (2) e (3), a diferença está na regência do verbo. No primeiro, o verbo é regido da preposição “de”, portanto um verbo transitivo indireto, o que não ocorre no segundo exemplo, em que, inversamente, o verbo não é regido de preposição, por isso um verbo transitivo direto. Os complementos para esses verbos são denominados objeto indireto e objeto direto, respectivamente.

Em ambos exemplos, o verbo não tem 100% de carga semântica, seu sentido termina no complemento, o qual é chamado de objeto (indireto para o primeiro exemplo e direto para o segundo).

Ressaltamos que pode ocorrer do verbo transitivo vir acompanhado dos dois tipos de complemento obrigatório, o objeto direto e o objeto indireto. Nesse caso, ele será classificado como transitivo direto e indireto. Veja no exemplo a seguir.

(4) A namorada recebeu flores do namorado.

No exemplo (4) o verbo “recebeu” tem como complementos “flores” e “do namorado”, portanto os dois tipos de complemento, um não regido de preposição (objeto direto) e outro regido de preposição (objeto indireto). Daí a classificação do verbo em transitivo direto e indireto.

O verbo que tem 100% de carga semântica, como já foi dito, não é acompanhado de complemento obrigatório (objeto), mas pode vir acompanhado de complemento não obrigatório, um adjunto.

(5) Todos os presentes saíram logo da reunião.

No exemplo (5), o verbo “saíram” não exige complemento, pois o sentido está completo. Entretanto, os sintagmas “logo” e “da reunião” indicam, respectivamente, circunstâncias de tempo e de lugar. Essas circunstâncias são representadas por sintagmas que têm a função de adjunto adverbial, pois modificam o verbo, que representa a ação. A classificação desse verbo é de intransitivo.

As gramáticas que dão classificação ao predicado, consideram esses casos, em que o verbo é transitivo ou intransitivo, como predicado verbal, uma vez que o verbo tem carga semântica (completa ou incompleta) e, por isso, torna-se o núcleo desse predicado. Daí a classificação como predicado verbal.

Quanto aos verbos que têm 0% de carga semântica, estes são considerados meros relatores, isto é, exercem a função de relacionar/ligar o sujeito a um outro sintagma, o qual geralmente tem a função de modificar o sujeito. A esse tipo de predicado, as gramáticas dão a classificação de predicado nominal.

(6) Os vencedores estavam felizes.

No exemplo (6), o verbo “estavam” não tem carga semântica, ele cumpre a função de relacionar o sujeito “os vencedores” a “felizes”, que tem a função de modificar o sujeito, dando-lhe uma característica. Portanto, o verbo é vazio de sentido e classifica-se como verbo de ligação. O complemento desse tipo de verbo, o de ligação, também se torna obrigatório e é classificado como Predicativo do Sujeito (PS).

Há gramáticas que oferecem uma lista de verbo de ligação, mas memorizar essa lista pode não ser eficaz, visto que, de acordo com o contexto, um verbo que seria de ligação pode deixar de ser.

(7) Os convidados estavam na sala.

Observemos que o exemplo (7) gera polêmica em sua classificação. Podemos afirmar que não é um verbo de ligação por não estar relacionando apenas o sujeito a uma característica sua.

No entanto, a gramática tradicional classifica esse verbo como intransitivo, o que gera dúvida, porque seu sentido não parece encerrar-se no verbo. Na construção sintática dessa oração, o sentido do verbo parece terminar em seu adjunto adverbial “na sala”. Para tanto, Sautchuk propõe uma nova classificação. Como o verbo termina seu sentido no adjunto adverbial, a autora sugere que ele seja classificado como “transadverbial”. Essa classificação parece-nos coerente.

Agora, vamos novamente fazer uma parada para revisitarmos tudo o que foi exposto até agora. Para tal, leia e reflita sobre o quadro acima.


Características morfossintáticas dos complementos verbais

Acabamos de ver os complementos obrigatórios do verbo, ou seja, os objetos – direto e indireto – e o predicativo do sujeito. Os primeiros articulam-se a um verbo transitivo, cujo sentido é incompleto e exige o complemento, regido ou não de preposição. Já o segundo, o predicativo do sujeito, articula-se ao verbo de ligação, complementando o predicado, visto que esse tipo de verbo apenas relaciona o sujeito ao seu complemento.

Veremos, então, algumas características morfossintáticas desses complementos, a fim de facilitar a identificação desses elementos na oração. Depois veremos outros complementos verbais, ou seja, os complementos não obrigatórios que também podem ocorrer na oração.

Assim como apresentamos o método prático para localizar o sujeito na oração, sugerido por Sautchuk, veremos que o Objeto Direto (OD) também apresenta peculiaridades que possibilitam sua identificação.

A primeira delas é que a natureza morfológica do OD é substantiva, isto é, ele é representado por um sintagma nominal. Este pode ser substituído por um pronome pessoal (assim como o sujeito), mas por ocupar a posição C (na estrutura SVC), deve ser substituído por um pronome pessoal oblíquo.

(8) O povo perdeu a esperança. (?)
       Sim, o povo perdeu-a.

Veja que utilizando o método de transformar a oração em pergunta e, ao respondê-la, substituir o sintagma pelo pronome pessoal, o sintagma “a esperança” foi trocado por “a”, uma vez que ocupa a posição C e, portanto, é o objeto da oração. De acordo com a norma culta, pronome pessoal reto não pode ocupar a posição C, então não poderia ser: “Sim, o povo perdeu ela”. Esse tipo de pronome apenas pode ocupar a posição S (de sujeito).

Outra característica importante para identificar o objeto direto é que o sintagma nominal que o representa é autônomo (e não interno). Além disso, o pronome oblíquo que pode substituí-lo deve concordar em gênero/número com o núcleo do objeto.

Outro método sugerido pela autora para confirmar se o termo analisado é objeto direto é o de transformar a oração em voz passiva. Assim, veremos que o objeto é um “sujeito disfarçado”.

(9)           O povo perdeu a esperança./ A esperança foi perdida pelo povo.

No exemplo (9), ao passarmos a oração para a voz passiva, o objeto direto (na voz ativa) torna-se sujeito da oração (na voz passiva). Por isso, dizemos que o objeto é um “sujeito disfarçado”.

Quanto ao Objeto Indireto (OI), este é representado por um sintagma preposicionado (o que pode confundi-lo com o adjunto adverbial) e é obrigatório na oração. Pode ser também substituído por um pronome oblíquo – lhe(s) – principalmente quando regido por preposição “a”. As preposições mais comuns como introdutórias desse tipo de sintagma são “em, a, para, de, com, por”.

Como pode ser confundido como adjunto adverbial, ressaltamos que este, apesar de ser também representado por um sintagma preposicionado, não é obrigatório na oração, mas acessório, ao passo que o OI é obrigatório.

(10)           Sugeri ao menino um banho.

(11)           Sairemos ao amanhecer.

Em (10) o sintagma preposicionado “ao menino” é complemento obrigatório do verbo e, portanto, objeto indireto. Já no exemplo (11), o sintagma “ao amanhecer”, embora seja preposicionado, não é obrigatório, pois o verbo já tem 100% de carga semântica, por isso tem a função de adjunto adverbial, uma vez que se trata de uma circunstância de tempo que modifica o verbo.
   
Predicativo do Sujeito (PS) enquanto complemento obrigatório, articula-se a um verbo de ligação. Todavia, esse tipo de complemento pode ocorrer com verbos que não sejam de ligação, como um complemento acidental na oração.

(12) Os meninos pareciam agitados.

(13) Os meninos chegaram agitados.

Na oração do exemplo (12), o sintagma que corresponde ao predicativo do sujeito, “agitados” (de natureza adjetiva), é obrigatório, tendo em vista o verbo “pareciam” ser de ligação. Já em (13), o verbo “chegaram” é intransitivo, o que torna o predicativo acidental, circunstancial e não obrigatório.

As gramáticas tradicionais, inclusive, classificam esse tipo de predicado (que apresenta verbo intransitivo/transitivo e predicativo do sujeito) como predicado verbo-nominal, pelo fato de apresentar um verbo significativo, que é núcleo do predicado verbal, e um outro sintagma que corresponderia ao núcleo do predicado nominal (segundo o ponto de vista da gramática tradicional).

Não vamos, entretanto, ater-nos a essa classificação do predicado. O importante é entendermos a articulação dos verbos que se encontram no interior dele.

Retomando o predicativo do sujeito, verificamos que o sintagma que corresponde a ele também é autônomo (e não interno) e por ser de natureza adjetiva, normalmente é representado por um sintagma adjetival, o que não impede que seja representado por outro tipo de sintagma (nominal, por exemplo), mas que tenha característica adjetiva.

(14) A festa foi horrível.

(15) A festa foi um fracasso.

Em (14), o sintagma que representa o predicativo do sujeito – “horrível” – é adjetival. No entanto, em (15), o sintagma “um fracasso” é nominal, mas equivale a um adjetivo em relação ao sujeito “A festa”.

Assim como predicativo do sujeito, pode haver Predicativo do Objeto (PO) na oração. Este tem as mesmas características do predicativo do sujeito, com a diferença de articular-se ao objeto e não ao sujeito.

Os verbos que apresentam esse tipo de predicação são denominados “transobjetivos” por Sautchuk (2004). São eles: eleger, encontrar, julgar, nomear, considerar, proclamar, achar.

(16) Considero esse garoto um chato.

Veja que no exemplo (16), o sintagma “um chato” é um sintagma autônomo, de natureza adjetiva, mas se refere ao objeto direto “esse garoto” e não ao sujeito da oração, que está oculto (“eu”). Portanto, esse sintagma representa o predicativo do objeto e não o predicativo do sujeito.

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